O Brasil Precisa Se Preparar Para o Pior... (Zé Dirceu)
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O país precisa se preparar para o pior
Apesar do pacote de estímulo econômico de US$ 819 bilhões do presidente Barack Obama ter sido aprovado na Câmara dos representantes – segue agora para o Senado, onde enfrentará a oposição dos republicanos – a crise nos Estados Unidos avança. Além de prever US$ 275 bilhões em cortes de impostos e outros US$ 8,2 bilhões para a expansão da rede de banda larga no país, o plano destina US$ 87 bilhões para aumento temporário nos subsídios federais à saúde pública nos estados, US$ 79 bilhões para escolas e universidades públicas, US$ 90 bilhões para infraestrutura e US$ 54 bilhões para a produção de fontes de energia alternativa.
Estabelece também um pacote para os já desempregados, que inclui US$ 43 bilhões para estender o seguro-desemprego e o treinamento de mão-de-obra, e US$ 39 bilhões para que os demitidos possam pagar por seguro-saúde. Para os mais pobres, o plano destina US$ 20 bilhões em ajuda para a compra de alimentos (food stamps). Mesmo com esse pacote de estímulo econômico, a última segunda-feira ficou conhecida como bloody Monday. 75 mil americanos perderam o emprego, durante a semana dezenas de empresas anunciaram demissões, começando pela rede Starbucks que fechou 300 lojas e demitiu 6.500 funcionários.
Para citar mais um exemplo dos efeitos da crise na economia global, na Grã-Bretanha o governo volta a socorrer os bancos, já nacionalizados na prática. Apesar da situação excepcional do Brasil, não temos como evitar as consequências da crise, daí a importância das medidas tomadas pelo governo no início do ano, começando pela redução dos juros da taxa selic em 1%. Destaco, entre elas, a decisão de aumentar o limite de empréstimos do BNDES, de R$ 91 bilhões em 2008 para R$ 166 bilhões neste ano; o plano de investimentos da Petrobras, com 55% a mais de recursos para US$ 174,4 bilhões; e o anúncio de um novo programa de incentivo à construção civil, que contempla 300 mil habitações para as famílias com renda entre 2 e 5 salários mínimos.
Essas medidas sinalizaram a determinação do governo de manter o país crescendo e se preparar para o pior. O governo tem pela frente, no primeiro semestre, três desafios básicos: a falta de crédito, já que o sistema bancário privado continua não emprestando capital de giro e nem dando crédito para as empresas brasileiras pagarem suas dívidas no exterior; o desemprego; e as contas internas e externas. Com relação ao crédito, o governo já fez tudo o que está em sua atribuição legal, liberou o compulsório, deu crédito via BB para as exportações e via BC direto para as empresas pagarem suas dívidas no exterior, garantiu crédito e reduziu impostos para os setores de maior peso na economia, além de reduzir impostos para o consumidor.
Com relação ao desemprego, o governo não aceitou a agenda de setores empresariais, ligados aos tucanos, que queriam redução de salários e jornada de trabalho e suspensão dos contratos de trabalho, pelo seu caráter recessivo e injusto, apostando no crescimento da economia em 2009. Apesar da gravidade da falta de crédito, são os altos juros e as contas internas e externas que devem preocupar o país. Superada a fase que havia risco de o país e o governo aceitarem uma política de corte de gastos e flexibilização das relações de trabalho, de maior rigor fiscal e monetário, como defenderam os membros da Casa das Garças e grande parte da mídia, resta a questão dos juros e das contas externas.
Os juros precisam cair mais, inclusive para liberar recursos do pagamento do serviço da dívida para investimentos e desoneração tributária, sem colocar em risco o superávit fiscal de 3,3% que o governo fará em 2009, liberando 0,5% do PIB para investimentos. Juros de 13% na taxa Selic, que levou o governo a pagar R$ 162,3 bilhões de serviço da dívida em 2008, o que correspondia a 5,59% do PIB do período. Esse é o único e verdadeiro risco fiscal que o país enfrenta, fora suas consequências nos últimos anos no câmbio e nas contas externas do país.
Toda histeria sobre um provável risco fiscal pela política anticíclica do governo não passa de discurso ideológico. O Brasil fez um superávit fiscal de 4% no ano passado e um déficit nominal de 1,5%, quando a Europa, em média, tem 3% e os Estados Unidos mais de 8%. Manter o crescimento em 3% significa cortar pela metade o crescimento que o país teria em 2009, ou seja, haverá uma redução drástica das importações, que compensará a queda de preços das commodities e das exportações, viabilizando um déficit em conta corrente suportável para o país. Essa queda do crescimento já se manifestou na queda da demanda e da inflação e nas demissões em dezembro e precisa ser enfrentada com medidas anticíclicas. Daí a importância das medidas que o governo tomou no início do ano, que não só sustentam o crescimento econômico interno como reafirmam o papel do Estado, do BNDES, da Petrobras no projeto de desenvolvimento nacional.
Chega a ser ridícula toda discussão e todo debate promovido pelos tucanos e pela mídia, frente às medidas adotadas pelos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Ainda bem que o governo Lula optou não só por uma política anticíclica, mas pelo fim dos últimos resquícios da política neoliberal no Estado brasileiro. Não está em jogo apenas o crescimento e a manutenção dos empregos e das conquistas sociais do governo Lula, o que está em jogo é o futuro do Brasil.
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Estes espaço não copia nada para vender.
O compromisso é dar voz a um assunto de tamanha importância que é sacanamente omitido pela mídia nacional.
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